quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Dia da Ira

No meu texto sobre o compositor brasileiro José Maurício Nunes Garcia, citei seu Requiem e minha experiência com ele. Até falei da brincadeira que fazia com os quatro primeiros compassos do coro no Dies Irae, onde a harmonia é idêntica à do Dies Irae do Mozart e as linhas vocais, apesar do ritmo um pouco modificado, são similares. E ouvindo os dois Requiens para recordá-los, me voltou um pensamento que sempre tive. Qual Dies Irae tem mais Irae?

O Dies Irae, que quer dizer literalmente Dia da Ira, é um hino de Tomás de Celano, do século XIII, que fala sobre o juízo final. O texto (aqui) é longo e compreende várias partes das Missas de Requiem como, além do próprio Dies Irae, o Tuba Mirum, Rex Tremendae Majestatis, Recordare e outros (cada compositor usa mais ou menos partes em suas missas).

Agora, eu acho o Dies Irae do Mozart genial. As linhas melódicas, os contrapontos, as conduções harmônicas, tudo funciona. Mas não é a mais "irada" das iras. Não estou comparando com o José Maurício, claro, cujo Requiem é bem mais simples. Estou falando do Verdi. O Requiem do Verdi é uma obra grandiosa. Ele usa toda sua técnica operística, além dos recursos do século XIX, pra gerar uma sonoridade arrebatadora. E seu Dies Irae é a prova disso. Aqui sim você ouve a música e sente a ira do julgamento final. Muita força, grandes acentos, passagens virtuosísticas, impacto. E ainda termina tenebrosamente. Pra mim, o mais representativo da ira divina.

Há quem diga que esta grandiosidade no Requiem do Verdi vem da sua experiência com a escrita operística. Mas isso não valeria pra Mozart também? Afinal, o italiano tem só uma meia dúzia de óperas a mais que o austríaco. E já ouvi muita gente dizendo que isso se deve ao fato de Verdi ser mais "moderno" do que os outros compositores de Requiens conhecidos. Hummm... concordo que as possibilidades orquestrais da ópera italiana possibilitavam um dramatismo maior. Mas não por ser mais moderno. E o Dies Irae do Karl Jenkings, que ainda está vivo? É uma ótima composição, mas parece trilha de cinema. Muito mais festivo do que furioso.

Confira os Dies Irae de Mozart, José Maurício, Verdi e Jenkings (clicando em seu nome) e tire sua conclusão. E vote na enquete sobre "a mais irada das iras".

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